27 agosto 2005

sessão textos antigos (parte I)

(escrito em 14 de novembro de 2004)

depois da relação findada, do fim do amor, o que resta é o lamento. mesmo que nunca tenha havido amor, a sobra é sempre um lamento pela vida que não existiu, das conversas que não tiveram tempo de serem tidas, dos amigos em comum que não foram compartilhados.
é estranho que se tenha tanto a lembrar, mas prefere-se a nostalgia do não acontecido. sempre a saudade da família de que se poderia ter feito parte, das viagens sequer planejadas, dos jantares comentados, mas não marcados.
por que a atração pelo que podia ter sido, mas não foi? ou foi na imaginação, nas projeções de futuro intrínsecas do ser humano ou da mulher com todas as suas tendências.

25 agosto 2005

esclarecimento

gostaria aqui de pedir que, por favor, não tomem esse blog como um diário do que eu sinto, faço ou desejo. não é. como tentei colocar, é fruto de uma maneira de enxergar o mundo construída em conjunto, não é o modo como só eu penso.

assim, nem tudo que eu escrevo aqui tem a ver especificamente comigo e quem me conhece bem sabe que é muito maior que isso.

vou experimentar postar uns textos antigos...

24 agosto 2005

a intrusa

alguém quando criança já se sentiu não sendo bem vindo numa turma? você ali, participando sem participar. andando junto e ficando pra trás. não entendendo as piadas.

é. eu sei. não é só quando criança que a gente se sente assim, mas a consciência de me sentir assim veio aos 7 anos. e foi a situação que marcou mais. acho que foi a primeira vez que me senti idiota – depois de perceber o quanto estava sendo entrona.

o motivo do assunto é que de novo me sinto assim. descobri que estamos entrando em setembro e meu ano foi quase todo um grande intrometimento. passei bons meses vivendo uma vida que agora parece que não era pra mim. não que alguém tenha me acusado de nada. longe disso. sou discreta demais pra que as pessoas tenham coragem de chegar pra mim e dizer isso. mas vejo agora que, pior que ser acusada, é ser ridicularizada. por não perceber que a “turma” não era a minha. as pessoas de fora rindo da menininha cuja ficha não cai. sem entender as piadas, sendo sutilmente excluída.

ai... foram tantos os sinais. odeio me sentir com 7 anos de novo.

19 agosto 2005

amor feinho (II)

quero um amor que ronque do meu lado
que me acarinhe com calos nas mãos.
que não prometa,
que seja real como a vida.

quero amor que caiba na minha mão
pra que eu possa pegar quando quiser.

quero um amor que ande do meu lado.
que me deseje noite sim, noite não,
dia sim, dia tb.

um amor sem ilusão, mas cheio de esperança.
sem contos, sem fadas.
um dia depois do outro.
eu quero amor feinho.



em homenagem à adélia prado que, na quarta-feira, conseguiu fazer com que eu me sentisse um pouco mais normal.

16 agosto 2005

a lucidez perigosa

vivo encontrando textos, trechos que têm a ver comigo, com os quais me identifico e, inclusive, gostaria de ter escrito. esse texto da clarice é um deles.

"Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.

Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
– já me aconteceu antes.

Pois sei que
– em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
– essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém."
(Clarice Lispector)


é muito estranha e, ao mesmo tempo, tão familiar essa sensação de, quase o tempo todo, presenciar os acontecimentos da vida de forma tão alheia. sempre com a consciência do todo, observando tudo, apreendendo até mesmo o que é triste, até mesmo o que faz sofrer.
talvez seja o preço que se paga por querer melhorar e crescer. a consciência. esse poder de sempre conseguir enxergar um problema de fora e ser obrigado à sensatez.
entretanto, o mais irônico, é que tamanha lucidez não “serve pra viver os dias” porque caleja demais, traz à realidade demais. e em meio às esperanças do mundo, às pessoas cheias de quereres, nos faz passar por loucos, desesperançosos.
mas e sem minha lucidez? talvez não houvesse meio de sair a rua, talvez houvesse medo demais, mentira demais pra mim.
e é caminho sem volta (?)
que haja meio termo,
que haja meio termo,
amém.

10 agosto 2005

numa reportagem da revista veja do ano de 1999, sobre depressão, li que algumas pessoas tendem à depressão. que é algo meio hereditário, como propensão em ter hipertensão ou alguma doença cardíaca. e que mulheres também são mais propensas a desenvolver uma depressão porque produzimos menos serotonina no organismo. lendo isso, há alguns anos, no auge da minha infelicidade, logo concluí que eu me encaixava em todas essas “propensões”. e que, sendo assim, eu tinha todos os motivos do mundo para me considerar uma pessoa depressiva e concordar que não havia muita solução pra mim. minha mãe me xingou demais, mas eu estava convencida que jamais seria feliz, com minha condição de vítima aceita.

hoje, depois de alguns anos de terapia, mais outros tantos de conversa, muita realidade e muito calejo, vejo que, felizmente, eu estava errada. fora a inércia a que tendo sempre, e contra a qual luto, meu bom humor tem vencido. ufa! tendo à felicidade. mesmo às vezes curtindo minha dor, uma tristeza, chorar até ficar com vergonha do meu nariz vermelho e gigante quando isso acontece, mesmo assim, depois disso tudo, me canso. canso de sofrer, de ter pena e aí tudo anda, volto a fazer vozes, a soltar frases engraçadas e a rir.

de certa forma, é um alívio chegar a essa conclusão. mesmo por que, relendo a matéria antiga da veja, li que uma tristeza profunda é caracterizada como depressão depois de umas duas semanas ou três sem que ela passe. bem, nó na garganta não sinto mais...

05 agosto 2005

recomeço

apesar de (nem tantas assim) tentativas em fazer um blog de 4, de discutir assuntos facilmente falados, confesso que não consegui escrever textos de qualidade para postar. aliás, tenho escrito pouca coisa, minha cabeça andou ocupada demais com problemas ou quebra-cabeças, com angústias que dispensavam o desabafo do papel. não me pergunte por que desisti assim.

diante disso, só me resta continuar com meus textos autobiográficos, ou desistir de vez da idéia do blog. que me faz tremer, de certa forma, por expor coisas que sempre foram protegidas com senha no meu computador. menos por serem secretas que por vergonha do julgamento que vão sofrer. é. na verdade, ainda nem sei por que seria interessante ler o que escrevo.

ainda sim...