26 setembro 2005

silêncio


por que o silêncio é tão assustador? assustador em conversas não virtuais, ou no pensamento calado de alguém que sempre tem o que dizer. até mesmo nas atividades diárias, repletas de sons nos últimos tempos, a falta de sons tem me deixado incomodada.

minha timidez sempre tão silenciosa. agora já não é mais. nem sei se isso é bom, na verdade! gosto do silêncio, mas agora, ele me assusta. pelo que está por vir, o que vem depois.

22 setembro 2005

inexplicável


um nome, um homem
repleto de vogais.
uma toada.

o barroco e todas as suas contradições
o equilíbrio,
os ângulos, a sombra.
detalhes a serem desvendados,
o complexo sutilmente velado.

aguça a visão.
um homem, um complexo.
libra, uma vida.


(belo horizonte, 10 de maio de 2005)

20 setembro 2005

onde você vê...

(Fernando Pessoa)

“Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.

Onde você vê um motivo pra se irritar,
Alguém vê a tragédia total
E o outro vê uma prova para sua paciência.

Onde você vê a morte,
Alguém vê o fim
E o outro vê o começo de uma nova etapa...

Onde você vê a fortuna,
Alguém vê a riqueza material
E o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.

Onde você vê a teimosia,
Alguém vê a ignorância,
Um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.
E que é inútil querer apressar o passo do
outro, a não ser que ele deseje isso.

Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar.

Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura.”


o que dizer de textos que chegam a nossas mãos no momento exato em que estamos prontos para tirar dele o melhor. é bem possível que não me tocasse tanto há um tempo atrás. mas hoje, me emociona, me encanta ver a verdade estampada, escancarada na forma de um poema. gosto de perceber que há momentos feitos pra cada coisa. e nada mais nobre que a aceitação. aceitação do outro.

“você nunca sabe do outro”. lembro de alguém mais que especial me dizendo isso. na verdade, nem sei se foi a primeira vez que disse – provavelmente não – mais foi a primeira vez que escutei. e trouxe pra vida todas as conseqüências que essa afirmação tem. porque por mais que conheçamos alguém, há sempre algo a ser descoberto, a surpreender, a decepcionar. mesmo que as surpresas não sejam sempre boas, são válidas. tornam o outro interessante, instigante.

pra mim, mais que uma constatação, chega a ser uma lição, tanto para o modo como me comporto diante das pessoas, quanto para a forma que as vejo e as julgo. eu sempre me dei demais, me mostrei demais, falei demais, sobre mim e sobre meus sentimentos. e por mais que haja o que descobrir em mim, realmente, a imagem passada é limitada, esgota fácil. acomoda o outro. “pra que se emaranhar no desconhecido, se já conheço tanto?”

quanto ao outro, sempre tendemos enxergá-lo e julgá-lo pelo que pensamos. um erro. nunca vemos 100% de alguém. ainda bem. nada melhor que descobrir o novo em alguém já “de casa”. sendo assim, não me resta nada além de olhar pra dentro, compreender as mensagens que transmito, saber ler meus códigos, meus gestos, meus calores, minhas vergonhas, meus desejos. porque só assim poderei satisfazer a mim. porque sou interessante demais, e ainda tenho tanto de mim pra descobrir, que ainda não há tempo de olhar pra fora. uma lição.

àqueles que acham que me conhecem: não me tomem como estranha depois desse “post”, me tomem como alguém cheia de surpresas (é o que quero ser até o fim). é melhor assim. eu garanto.

19 setembro 2005

atendendo a pedidos

um beijo pela minha serenidade.
quero o tormento dos ares inseguros.
loucura e sangue.
sem pressa e devagar pra não deixar estrago.
em doses, overdoses suportáveis
e prazerosas.
com o tempo da digestão.
quero a paz nascente da ameaça
e não do acordo.
a segurança do risco de um pé só.
um céu com pimenta.


(belo horizonte, 06 de julho de 2004)

13 setembro 2005

fantasmas à solta, porém domesticados


incógnita é você.
há que se ficar lendo através,
ou tentando...
buscando as igualdades de gêmeos,
supondo no reflexo,
transpondo entreolhos.
sem sins nem nãos, só aceito o que vejo,

o que sinto e o que acontece.

(belo horizonte, 19 de junho de 2004)

08 setembro 2005

sobre cuidado

um amor é fruto de tantos pequenos gestos que chega a ser frágil, delicado e sutil. e, às vezes, a beleza está realmente nisso. em não ver. em construir sem alarde, sem ninguém perceber, silenciosamente, uma vida.
me emociona sempre ver poesia (como me ensinou Adélia) nos gestos mais comuns, mais simples. e no meio de tanta realidade que vivo, sou testemunha de uma história tão bonita quanto silenciosa, repleta de certeza, mas que passa desapercebida tantas vezes... tão bem guardada, bem cuidada. só em alguns momentos nos escapam certas belezas, nos cobrem de vontade e fazem acreditar que a vida pode ser realmente boa ao lado de alguém.
um passo novo. e me encanta tanto ver como o processo foi cercado de cautela, de cuidado, mesmo sem palavras. apesar de tanta ansiedade, normal em mudanças, um doce que diz: “calma. está tudo bem. vai ficar tudo bem! mesmo que não seja agora.”
e, assumindo minha condição de romântica, confesso que me enche de alegria ver as pequenas expectativas sendo atendidas, as promessas sendo cumpridas. sem pressa. as pequenas ansiedades do primeiro lanche, ou do primeiro bom dia. aquele frio na barriga tão bom!

“temos a semana inteira pela frentevocê me conta como foi seu diae a gente diz um p'ro outro:- estou com sono, vamos dormir!”

sejam muito felizes!

(ouvindo a trilha do “fabuloso destino de amelie poulain”)

06 setembro 2005

quanto mais eu rezo...

chamo de fantasmas, pessoas que passaram pela minha vida, não fazem mais parte dela mas que, independente da duração da convivência, não saíram, por motivos diversos. e ficam assombrando meus pensamentos, meus momentos vagos, seja em sonhos ou aparecendo de repente e bambeando minhas pernas. eu tenho dois. acho que para o resto da vida.

um deles é uma paixão de adolescência, mal resolvida, mal acabada, mal acontecida, na verdade. talvez uma grande invenção minha, fantasiando o príncipe encantado. e como era perfeito! o namorado, o pai, o genro, o filho que toda mulher já quis. e ainda tão bonito! me conquistou comendo chocolate na porta de casa às 5h da manhâ. nada mais romântico.

o outro é um amigo, hoje paixão nem tão secreta assim. fica lá, hibernando, até que surge uma brecha e volta a povoar meus sonhos. caso nem começado, nem resolvido. só uma vontade longe, longe...
a partir de agora, acho que não me permito ter fantasmas. já estou velha. e dá muito trabalho.