22 abril 2007

o que seria deste mundo se não fossem os homens?

um texto por priscilla, sobre liberdade, lucidez e hemisférios.

"acho que melhor. o pior ao bicho homem é o poder das possibilidades: o poder de poder. a possibilidade liberta o homem. o faz ziguezaguear por todo e qualquer caminho, o que a meu ver é o verdadeiro sentido do poder, do estar. fazer da vida a sua sala de estar, daquelas bem casa de vó, onde você pode assistir ao programa do luciano huck num preguiçoso sábado à tarde, após ter ido à manicure, tomando sorvete de flocos sem medo de deixar o pingo atacar o tapete velho. e foi nessa mesma sala de estar que você pode assistir na cnn espanhola ao vivo, aos conflitos dos cocaleiros de cochabamba. no mesmo sofá onde há 40 anos atrás toda a vizinhança assistiu à ida do homem à lua. isso é liberdade. aurélio buarque de holanda não me bastou com a sua “condição de ser livre”.

que estado de poder é esse que escraviza, castra e aliena tantos homens e mulheres da minha geração? posso tudo, quero tudo e muita coisa, mas não posso! “o que vão dizer?” o que até os próprios amigos, aqueles que você mais gosta, os melhores... o que eles vão pensar? o que eles pensarão de mim?

parece-me que homens e mulheres se esqueceram do “ser” enquanto traquinavam tantas descobertas. dna, micro-cirurgias, voto eletrônico, corrida espacial, revoluções políticas, guerras.... que senso comum é esse que castra simples e friamente os nossos eus, coitados... perdidos por aí. estão em algum lugar, mortos ou atropelados por modismos, fanatismos e sobretudo padrões.

cansei e cansei muito aos 26. estou com muita preguiça. muita, enorme. e conheço muitos preguiçosos como eu. todos com preguiça dessa pretensa inteligência humana: intelectualóides escrotos... falsos ricos... pseudo-hippies... ecat!

prefiro os dinossauros onde t-rex era t-rex e pronto! agradassem ou não, pterodáctilos roubam ovos de mães indefesas. eu sempre suspeitei que devia ter cursado outra coisa... entre biologia ou medicina veterinária. quando eu era muito pequena, muito pequenininha mesmo, perguntavam-me o que eu queria ser quando crescesse e eu dizia: “ ... bióloga!”. nunca entendi isso direito, mas agora sei o porquê. crianças não são inocentes; são sinceras, despretensiosas. são só seres humanos. ainda não viraram bestas.

cavalo dá coice, nunca à toa. muitas cobras só atacam quando acuadas e as que atacam sempre eu adoro! são vilãs natas! “...pula fora, senão eu mordo!” e as vacas, que são preguiçosas e ninguém tem nada com isso... fora os camaleões, águias, urubus... que personalidades! vinícius de morais admirava seu quintal porque achava sensacional patos, cachorros, gatos, gansos, galinhas, coelhos viverem harmoniosamente. sem guerras, todos felizes. não precisa ir ao iraque não, nem à rocinha. refiro-me às guerras internas, dos pré-conceitos velados, que são os piores. temos que ser ricos, bonitos, inteligentes e magros e aí, quem sabe, ainda alcançar a salvação eterna. axé!"