20 setembro 2005

onde você vê...

(Fernando Pessoa)

“Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.

Onde você vê um motivo pra se irritar,
Alguém vê a tragédia total
E o outro vê uma prova para sua paciência.

Onde você vê a morte,
Alguém vê o fim
E o outro vê o começo de uma nova etapa...

Onde você vê a fortuna,
Alguém vê a riqueza material
E o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.

Onde você vê a teimosia,
Alguém vê a ignorância,
Um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.
E que é inútil querer apressar o passo do
outro, a não ser que ele deseje isso.

Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar.

Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura.”


o que dizer de textos que chegam a nossas mãos no momento exato em que estamos prontos para tirar dele o melhor. é bem possível que não me tocasse tanto há um tempo atrás. mas hoje, me emociona, me encanta ver a verdade estampada, escancarada na forma de um poema. gosto de perceber que há momentos feitos pra cada coisa. e nada mais nobre que a aceitação. aceitação do outro.

“você nunca sabe do outro”. lembro de alguém mais que especial me dizendo isso. na verdade, nem sei se foi a primeira vez que disse – provavelmente não – mais foi a primeira vez que escutei. e trouxe pra vida todas as conseqüências que essa afirmação tem. porque por mais que conheçamos alguém, há sempre algo a ser descoberto, a surpreender, a decepcionar. mesmo que as surpresas não sejam sempre boas, são válidas. tornam o outro interessante, instigante.

pra mim, mais que uma constatação, chega a ser uma lição, tanto para o modo como me comporto diante das pessoas, quanto para a forma que as vejo e as julgo. eu sempre me dei demais, me mostrei demais, falei demais, sobre mim e sobre meus sentimentos. e por mais que haja o que descobrir em mim, realmente, a imagem passada é limitada, esgota fácil. acomoda o outro. “pra que se emaranhar no desconhecido, se já conheço tanto?”

quanto ao outro, sempre tendemos enxergá-lo e julgá-lo pelo que pensamos. um erro. nunca vemos 100% de alguém. ainda bem. nada melhor que descobrir o novo em alguém já “de casa”. sendo assim, não me resta nada além de olhar pra dentro, compreender as mensagens que transmito, saber ler meus códigos, meus gestos, meus calores, minhas vergonhas, meus desejos. porque só assim poderei satisfazer a mim. porque sou interessante demais, e ainda tenho tanto de mim pra descobrir, que ainda não há tempo de olhar pra fora. uma lição.

àqueles que acham que me conhecem: não me tomem como estranha depois desse “post”, me tomem como alguém cheia de surpresas (é o que quero ser até o fim). é melhor assim. eu garanto.

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