15 outubro 2007

crônica de noção


sempre me considerei uma pessoa com noção. com noção do certo e do errado, com noção do que é educado e do que é indelicado, com noção do bom e do ruim. num belo dia me deparei com uma mudança de valores, meus valores.
marquei uma viagem de negócios numa cidade próxima a belo horizonte. viajei de ônibus, pois não dirijo em estradas. realizada a reunião procedi em retornar imediatamente. um dos clientes me ofereceu uma carona, pois como já disse não dirijo em estradas. foi nesta carona que descobri o inusitado. paramos por um momento para encontrar outro caronista, que também era cliente, e assim como eu provavelmente não dirigia em estradas ou queria economizar uma gasosa. o cliente caronista é um homem de meia idade, obeso, fumante e muito bem-humorado. antes da entrada dele no carro, como se nada nem ninguém tivessem observando ele tirou de uma sacola uma camisa e de repente, não mais que de repente trocou de blusa na nossa frente, no meio da rua. ficou sem camisa e colocou outra menos suada. até que a atitude foi bem intencionada, mas eu achei um pouco “sem noção”. após a entrada no carro ele tirou um perfuminho da mesma sacola e deu umas borrifadas nele e claro em todos os demais presentes no recinto, o carro. falou que adorada aquele perfume e achava fundamental que todos andassem com um perfuminho a tira-colo. achei um pouco “sem noção”; não o fato do perfume a tira-colo mas sim as borrifadinhas nos demais presentes, afinal gosto de perfumes, mas dos meus. finalmente ele deu o golpe final, tirou um cigarro do bolso, acendeu e começou a fumar. nesta hora o carro já estava a 90km/h o que desviou a fumaça diretamente para as minhas narinas. dei umas tossidinhas, mas como fiquei tímida me contive. foi então que ele começou um prólogo interessante em meio a baforadas: - “... nossa gente, fiquei impressionado com a diretora da escola! como assim o sinal bate às 12:50hs e ela sai às 12:45hs? nossa senhora, ela é muito sem noção!!!!!” neste momento minha cabaça começou girar e pensar...perái, como assim ele tira a camisa na rua, dá borrifadinhas nos demais presentes, entope minhas narinas com fumaça e a diretora que é sem noção?
cheguei a uma conclusão: nunca mais falarei que alguém não tem noção, eu é que não tenho a noção da outra pessoa, ou sou eu a sem noção da história.

cynthia dias

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